1.2.08

"A cor da pele", Racismo

Racismo, s.m. Doutrina que defende a existência duma hierarquia entre raças humanas.
in Dicionário da Língua Portuguesa, 1999, Editorial notícias
Entendo-se que raça é o “conjunto de indivíduos que se diferençam dos outros da mesma espécie” e, num sentido pejorativo, “qualidade, classe”.
Recordemos o ditador, de origem austríaca que, pelas suas teses racistas e anti-semitas perseguiu e exterminou grupos minoritários, desde judeus a deficientes físicos e motores. Que princípios nacionalistas justificam o Holocausto? De certo que não há justificação e, até hoje, permanece uma incógnita o número de pessoas que seguiram as suas ideias. Por medo? Por receio de uma futura execução?
Há dias assisti ao filme “O Pianista”. O enredo baseia-se na biografia de Wladyslaw Szpilman, um dos milhares de judeus que viviam em Varsóvia e foram perseguidos e maltratados aquando da invasão alemã. Szpilman, após anos de sofrimento, sobrevive ao extermínio e vagueia pelas ruas da cidade até ao final da Segunda Guerra Mundial. Apesar de todos os factos relacionados com a ditadura de Adolf Hitler estarem datados, custa-me bastante acreditar que, no século XX, se tenha cometido um atentado tão grande à Humanidade e aos direitos do Homem, já defendidos em séculos anteriores.
No século XIV, a peste negra matou um número infindável de pessoas na Europa. Esse cenário foi devastador, todavia, é muito mais fácil aceitá-lo do que o extermínio de uma raça meramente por questões raciais, visto que a epidemia surgiu da falta de higiene e das pulgas e ratos-pretos que contaminaram uma grande parte da população europeia.
Na verdade, o que norteou o espírito racista do líder nazi? Prefiro pensar que houve uma razão bem mais forte que apenas a xenofobia.
"Todas as nossas políticas sociais são baseadas no facto de que a inteligência deles [dos negros] é igual à nossa, apesar de todos os testes dizerem que não […] Pessoas que já lidaram com empregados negros não acreditam que isso [a igualdade de inteligência] seja verdade."- Watson
E, em inícios do século XXI, o que leva James Watson a proferir tal afirmação? Tal como ele, de etnia branca, foi merecedor de um prémio Nobel, também o foi Kofi Annan, nascido no Gana (África Ocidental).
Num mundo em constante desenvolvimento científico e tecnológico, parece-me irrisório que assuntos fundamentais da sociedade sejam, durante anos, debatidos, sem que se chegue a uma conclusão definitiva que coloque fim aos movimentos racistas que não têm provocado poucos conflitos verbais e físicos.
Como dizia José António Saraiva, «as teorias racistas apresentam os pretos como uma raça inferior, como se fossem ‘degenerescência dos brancos’. Mas, ao olhar para as mãos daquela mulher, ficava com a ideia exactamente contrária: aquela cor representava um ‘apuramento da raça’». Luta-se constantemente pela legitimação das relações homossexuais, e há países onde já é possível o seu matrimónio. Finalmente. E no que respeita à “cor da pele”? O que tenho de diferente eu e uma adolescente preta? – escrevo assim, sem qualquer necessidade de recorrer a eufemismos. Talvez a única diferença seja a de que eu estou muitíssimo mais sujeita a desenvolver cancro na pele do que ela. Não encontro, aqui, quaisquer vantagens em ser branca.
Rios e rios de tinta podem correr sobre este tema.
Revolta.
Angústia.
Incompreensão.
São sentimentos que pessoas “anti-racistas” têm quando se confrontam com atentados aos direitos “inalienáveis; entre eles contam-se a vida, a liberdade e o desejo de ser felizes”. (Declaração da Independência da América, 1776), que todos os dias se repete, desde a América até à Oceânia.
Como o nosso projecto é um olhar sobre as Humanidades enquanto expressão artística capaz de agir sobre o mundo e sobre os homens, pareceu-me pertinente este tema. No fundo, somos jovens e estamos a iniciar e a desenvolver o nosso espírito crítico para que, futuramente, e já agora, possamos agir como cidadãos activos, com vista ao bem comum.

Carla

18 comentários:

Carla disse...

p.s.: falta um "d" numa das frases. Ficaria: "e pulgas de ratos-pretos".
E um "m" : "(...)com atentados(...) que todos os dias se repetem(...)"


Às vezes há dificuldade na edição dos texto, não é verdade? ... =X

helena disse...

Carla

Para te dizer que gosto muito do que escreves, partilho um poema de António Gedeão poeta e professor com formação científica na área das Físico-Químicas:

Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhai-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.



(António Gedeão)

Carla disse...

Obrigada pelo seu comentário, professora =) Foi interessante ter partilhado connosco este poema bem bonito! "nem sinais de negro, nem vestígios de ódio."- e no final perguntamos, porquê o Racismo?...

Um beijinho*

Sofia disse...

O racismo é uma coisa que, sinceramente, foge do meu raciocínio. Não consigo perceber o Porquê deste preconceito, desta intolerância. Porque, de facto, eles são pessoas como nós e muitas vezes destacam-se tanto ou mais do que nós nos pontos positivos. Nós, portugueses, que tanto deles nos aproveitámos. Das riquezas dos seus países e do próprio corpo, após as descobertas. É triste que, actualmente, com tantos ideiais de igualdade e tolerância, nos esqueçamos de que , para além de falar acerca disso, é importante olhar ao espelho e pensar que.. apesar de tudo, o exemplo deve começar por nós. É óbvio que não é apenas um indivíduo que mudará o mundo. Mas muitos indivíduos o constituem e, caso todos pensemos que até podemos dar uma hipótese à igualdade, o mundo também terá uma hipótese de se melhorar.

Carlinha, adorei :) Acho que tens toda a razão e! Um beijinho grande!

Carla disse...

Moreninha =) obrigada pelo teu comentário, concordo inteiramente contigo. Mas já pensaste...somos tão jovens, talvez possamos dar o nosso contributo para causas em que acreditamos! =) beijinho bem grande!*

Tiago disse...

Bela reflexão sobre um probelama infelizmente tão actual.Grande texto Carla =)**

Carla disse...

Pois é Tiago, infelizmente =\ beijinho grande para ti e bom Carnaval!

Flávio Santos disse...

carla já comentavas o meu post!!!

Valter disse...

Carla, que satisfação me deu ler o teu texto! Com toda a pertinência, introduzes argumentos bastante plausíveis. Com esta reflexão, parece-me, que uma boa parte dos objectivos deste trabalho de projecto foram concretizados. :)

Há uns meses, os meios de comunicação social e a na blogosfera, choveram críticas cerradas à posição de James Watson. O argumento a favor da sua posição é apenas este: há provas científicas e empíricas. A pergunta que faço é a seguinte: poderá a ciência mostrar que alguns valores, através dos quais, o homem pauta o seu comportamento, estão errados, tal como o valor da igualdade?
Bom... há que pensar nisto!

Soledade disse...

Deixo-te um sorriso, Carla. E já saberás a razão :)

Carla disse...

Professor Valter, de facto, dá que pensar. É curioso que hoje comentei com o meu pai que seria óptimo um negro ganhar a presidência dos EUA. Estamos no século XXI, como é possível haver tantos adeptos do racismo? ... Obrigada pelo seu comentário, um beijinho e até sexta =)


Professora Soledade, retribuo com um sorriso também. Só ainda não percebi a razão... Beijinho, até amanhã!

Soledade disse...

A razão tem a ver com a qualidade do texto. E com os conselhos que tu me deste - sensatos e calorosos - acerca da importância do sono.
Fizeste-me sentir pequenina ;-)

Anónimo disse...

eu tbm gostei muito do teu texto carla...infelizmente o racismo cada vez aumenta mais, as pessoas tem muito preconceito pela cor por exemplo numa turma se tivermos que dar todos as maos e se entre nos houver uma pessoa de cor escura existe sempre quem se recuse a dar-lhe a mao o que para muitas pessoas e normal mas eu nao acho nada normal acho isso ridiculo mas defacto isso acontece mesmo!

beijinhos carla e parabens! :P

Anónimo disse...

"The Black Trilogy of the 21st century".
Já repararam que até a terminologia que utilizamos, qualquer que seja a língua, assenta sobre conceitos e preconceitos racistas? Black tem sempre uma conotação negativa, independentemente do contexto. A língua, enquanto sistema, serve-nos na perfeição para promovermos comportamentos segregacionistas.
Parabens, Carla, pelo teu acordar estremunhado para a realidade bestial.

luísa Rocha disse...

Carla, li o seu texto com grande interesse e penso que reflecte sobre questões extremamente pertinentes. Continue a escrever e a partilhar com os outros as suas opiniões. Um beijinho da professora Luísa Rocha

Anónimo disse...

Parabéns! Trabalho excelente.
Continuem.

Anónimo disse...

Olá Carla, gostei muito do teu texto sobre o racismo.
Enquanto lia recordava-me de vários episódios do filme "Freedom writers" e da necessidade de mudar comportamentos e mentalidades,o que só pode acontecer através da denúncia e da chamada de atenção para situações que ferem a dignidade do ser humano (tal como tu estás a fazer com este texto).

Gosto do vosso blog :) Parabéns!

Carla disse...

Tânia, de facto, o racismo é "ridículo", como tu própria denuncias... E é triste que episódios desses aconteçam em salas de aulas, pois, a escola deveria ser um espaço onde todos nos deveríamos sentir iguais, e não excluídos por aspectos tão medíocres como o tom de pele...
Obrigada e um beijinho

Professora Emília, achei curioso ter relacionado o título que escolhemos para o trabalho para comentar o texto. =) De facto, e infelizmente, a língua tornou-se um mecanismo perfeito de segregação, o que faz com que, muitas vezes, haja a necessidade de recorrer a eufemismos… Obrigada e um beijinho, até segunda!

Professora Luísa Rocha, fiquei feliz pelas suas palavras! Um beijinho e um sincero agradecimento!

Aproveito também para agradecer ao comentário que se encontra em anónimo! =)

Professora Vera, o filme é brilhante e toca-nos profundamente, consciencializando-nos para o nosso papel enquanto seres humanos e sensíveis, a “necessidade de mudar comportamentos e mentalidades”, tal como a professora afirmou. Obrigada pelas suas palavras =) um beijinho