Rainer Maria Rilke, Cartas a um jovem poeta. Trad. port. por Vasco da Graça Moura. Porto, Edições Asa.
Se há livro que gostaria de ter lido na adolescência é Cartas a um jovem poeta de Rainer Maria Rilke.
Quando me perguntam pelos meus livros preferidos, é fácil hesitar, mas se me perguntam qual o livro para determinada altura da vida, consigo aventar alguns títulos ou autores.
Franz Xaver Kappus era um jovem poeta que, malogradamente ficou condenado ao anonimato, escreveu uma carta ao já conceituado poeta alemão. Este escreve-lhe uma primeira carta, encetando assim um diálogo entre mestre e discípulo que se tornou um alento para todos os que procuram viver de um modo mais desperto. Temas como os do amor, da criação estética, da poesia, da vida, da finitude, são tratados com transparência e intensidade nas dez cartas que escreve ao jovem poeta que, ao procurar uma sábia opinião sobre as suas experiências poéticas, colhe verdadeiras lições de vida.

Se pudesse regressar à adolescência e pedir a alguém que me recomendasse um livro, daqueles que dá para pensar e sentir ao mesmo tempo, gostaria que fosse Cartas a um jovem poeta, na medida em que pertence a uma classe de livros que se tornam contemporâneos em qualquer época, pela razão de de dar forma às coisas humanas. Não se trata apenas de um livro, mas de uma iniciação à vida, instruída magistralmente por uma das vozes da poesia do século XX.
Transcrevo um pequeno excerto de uma das cartas, para vos animar a leitura:
Rainer Maria Rilke (1875-1926)
«É tão novo, está tão no princípio, que eu gostava de pedir-lhe, o mais que posso, caro senhor, que seja paciente quanto a tudo o que está ainda por resolver no seu coração e que tenha amor às próprias interrogações como se fossem salas fechadas e livros escritos numa língua muito estranha. Não indague das respostas que não lhe podem ser dadas porque não as poderia viver. E trata-se de viver tudo. Para já, viva as questões. Talvez viva então a pouco e pouco, sem se dar conta, e um belo dia ainda distante chegue à resposta. Talvez traga consigo a possibilidade de criar e de dar forma, como um modo de vida especialmente puro e venturoso; eduque-se para isso, - mas aceite o que vier com toda a confiança e só se vier da sua vontade, de qualquer necessidade íntima, e então tome-o para si sem ódio nenhum.»
5 comentários:
Valter, há uns seis ou sete anos, ofereci este livro a um jovem que gostava de escrever poemas: no 10º Ano, passava boa parte das minhas aulas a escrevinhar versos (a lápis, felizmente!) no tampo da carteira :)
Felizmente continua a escrever. Não sei se Rilke teve nisso alguma influência, mas concordo que é uma sugestão de leitura muito interessante. Levantemos a fasquia, que o 11D merece!
Pois, o Rilke não sei, mas dessa oferta jamais se esquecerá! :)
Naturalmente que este livro é uma iniciação à poesia, mas sobretudo à existência. Infelizmente, os filósofos não são tão inspiradores quanto Rilke. Há um livro semelhante a este, escrito por Agostinho da Silva, "Sete cartas a um jovem filósofo", mas não é nada de interessante! :(
Valter, sorrio aqui do teu ar desalentado. Eu acho que há filósofos MUITO inspiradores. Lembras-te de no ano passado termos falado de Savater, que era uma das sugestões de leitura para a turma? E Camus: "O Estrangeiro" está perfeitamente ao alcance destes jovens. Tu próprio te lembraste de Camus quando planificámos o Projecto da Turma :)
Tem razão! No entanto, as cartas são mais intimistas e reveladoras do ser que as escreve. Nesses livros, por exemplo, os autores são uma espécie de personagens de papel, menos reais e intensos. Sou um apreciador da epistolografia! (a propósito da nossa conversa de ontem, como é que se pode ler a "Aparição" sem se ler a "Carta ao futuro"?)
No entanto, o livro que conheço que mostra o filósofo de carne e osso, a pensar "online" com o leitor é o "Discurso do Método" de Descartes, que para os apreciadores de Filosofia é um livro inspirador e quase que se lê como as cartas do Rilke.
Bom fim de semana!
Ops, o comentário era meu! Entrei com uma conta diferente. Desculpem-me! :)
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