
Uma criança não é mais do que um adulto em desenvolvimento. Apesar disso, é um ser complexo e ingénuo, com todas as consequências que daí podem vir. A cidade, é um espaço geralmente grande e bem equipado, com vantagens e desvantagens, considerado, por muitos, como um centro de oportunidades. O nível de tecnologia e formação é mais avançado, comparativamente às áreas rurais. No entanto, isso não significa, obrigatoriamente, que no campo se viva pior.
Mas será que um miúdo observa a cidade como um adulto?
“Eu não vivo em Lisboa. Mas eu gosto de Lisboa. Quando vamos lá passear, ao domingo, vejo o Estádio do Sporting, que é o meu clube. As casas são muito altas e há muitas pessoas nos passeios. E às vezes vejo os aviões grandes. “ (Francisco, 9 anos)
“O que eu gosto mais nas cidades são as estátuas. Lisboa é uma cidade bonita com muitas estátuas.” (Madalena, 11 anos)
A cidade pode ter espaços verdes, pode ter tecnologia adequada, comércio e até actividades lúdico-culturais. Mas será que as crianças dão valor a isso? Já não é passear o rebanho que as faz feliz. Já não é apanhar flores no campo nem jogar as escondidas. Os rapazes, preferem a consola ou o computador. As raparigas, preferem os telemóveis e as bonecas que falam. Muitas das crianças urbanas de hoje em dia, só deixam as suas casas para ir à escola primária. E mesmo essas, chegam a casa à hora de jantar devido ao stress e ao trânsito que os seus pais têm de ultrapassar para viver. Porque, embora sejam os adultos quem mais se apercebe dos problemas das cidades, é nas crianças que eles mais se reflectem. Porque as crianças são o futuro. Onde estão as tardes a jogar à bola no jardim municipal? Onde estão os pais que brincam com os filhos? Actualmente, somente 25% dos pais são pacientes com os filhos. Dos 75% restantes, contam-se pelos dedos das mãos aqueles que se preocupam em saber a sua situação, dia após dia. Os empregos, o trânsito, os impostos, as condições de vida, tudo isso se traduz, depois, numa correria constante tipicamente urbana. E qual é o papel das crianças nisto tudo? Então, estas, tal como os políticos determinam, serão a nossa posterioridade. E, agora, pergunto eu, estarão elas preparadas para o ser? Cabe aos responsáveis pela sua educação reflectir. A cidade pode não ser o melhor local para cuidar das infâncias, mas problemas todos os locais têm. Há que circundá-los, porque tudo é adaptável. E, embora estes miúdos presentemente não se apercebam da situação em que se encontram, vão aperceber-se mais tarde. E, aí, poderão já ser o presente.
(Imagem: Mãe e Filho - Klimt)
5 comentários:
Sofia
Vi o quadro do Klimt, foi uma excelente escolha e pensei naquele poema de António Gedeão em que a Luísa que sobe a calçada,sobe tão cansada devido ao ritmo urbano/desumano, que quando chegar a hora de dar colo ao seu filho estará ela também a precisar de colo.helena
É importante pensar que a cidade tem dois rostos, como o deus romano Janus, tanto ser o sonho de muitos indivíduos que procuram uma vida melhor, como pode ser um presente envenenado.
Obrigado pelas tuas reflexões!
«Muitas das crianças urbanas de hoje em dia, só deixam as suas casas para ir à escola primária. (...) Onde estão as tardes a jogar à bola no jardim municipal?»
É triste uma cidade de que as crianças não conheçam, ao nível do seu bairro ou quarteirão, todos os recantos, árvores, jardins, "esconderijos", a floresta inventada do sonho e da descoberta. É isto que nos dizes Sofia: fomos espoliados do tempo e do espaço.
Uma bela reflexão sobre o tema da Cidade. Parabéns :)
Obrigada :)
Sofia, a tua reflexão recordou-me a frase do teste de Português que tínhamos de comentar. De facto, as cidades deveriam ser mais do que um espaço de passagem, mas um espaço de vivência. Consequentemente, "os cidadãos deveriam sentir-se identificados com ela e senti-la como sua". Como dizes e muito bem, o stress da correria urbana concentra-se sobretudo nos pais, no entanto, transfere-se com muita facilidade para as crianças, impedindo-as de crescer de forma saudável. Um beijinho bem grande*
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