6.4.08

Admirável mundo novo


O livro Admirável Mundo Novo retrata um universo futurista onde, desde a infância as crianças, durante o sono, são "injectadas" com vozes repetidas que lhes indicam como funciona o sistema, ou mesmo os padrões de conduta, para que nenhuma se revolte e rejeite a casta em que está inserida e o destino que lhe foi reservado. Naquele mundo tudo é organizado, o lema pode ser: "comunidade, identidade e estabilidade". De facto, a questão central do livro prende-se com o condicionamento genético e psicológico das pessoas e até que ponto são ou não livres, tal como a personagem principal, o Selvagem, se irá questionar na fase final, chegando a um ponto de total exaustão em que a única solução será o suicídio.

Huxley, em inícios do século XX, ponderou que essa sociedade estritamente organizada passasse de utopia a realidade no século VII depois de Ford, todavia, somente um século passou e já as inovações científicas e tecnológicas cresceram a um ritmo incrível. Não estaremos nós a permitir que esta fábula futurista se torne uma realidade em menos de 600 anos?



Numa escrita clara e acessível, Huxley remete-nos para um tema muito pertinente e actual, desenvolvido não só na literatura como no cinema.

17 comentários:

helena disse...

Olá Carla

Bom regresso!

Não conheço o livro que apresentas e a problemática que foca assusta-me, quando colocada no cinema deixa-me , por vezes, a pensar, a pensar...
O facto do personagem principal ser o Selvagem levou-me a um dos últimos filmes bons que vi " O Lado Selvagem", realizado por Sean Penn e baseado num livro que trata de um caso real, que me deixou-me também muito pensativa.

No segundo parágrafo na terceira linha escreves séculoVII e não percebi, será lapso?

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Carla disse...

Olá professora Helena!

Quanto à problemática é, de facto, assustadora como afirmou.

Ainda não vi esse filme, não posso comentar. =S

Quanto ao século VII depois de Ford, não foi um lapso. Passo a explicar, aquela sociedade, ao contrário da nossa que tem o calendário baseado no nascimento de Cristo ( a.C e d.C), o grande Pai, o grande mestre foi Henry Ford- o primeiro empresário, em finais do séc. XIX, inícios do séc. XX, a aplicar o sistema de montagem em série, de modo a produzir automóveis em massa dispondo do menor tempo possível. Penso que é por esta ideia de estandardização, padronização e até da mítica linha de montagem - características de um trabalho organizado e produtivo – que a sociedade retratada na obra de Huxley venera de tal forma o empresário Henry Ford, passando a sua visão de racionalização do trabalho, para uma certa ou total “racionalização da sociedade do Admirável mundo novo”.
Será que me consegui explicar? … Espero que sim!

Um beijinho, até amanhã

helena disse...

Carla

Obrigada pelos esclarecimentos!
Conseguiste explicar-me muito bem!

O tema de " O Lado Selvagem" é bem diferente, mostra a aventura de um jovem por paisagens americanas, em especial a do Alasca...

helena

Anónimo disse...

Carla, foi boa ideia publicares a tua leitura de Huxley. Como Orwell, foi um escritor visionário, e ambos previram um futuro sombrio e concentracionário que, como bem dizes, não parece nem distante nem inverosímil. Será que não viveremos já no limiar do Admirável Mundo Novo?

Soledade

Valter disse...

Olá Carla! Achei o teu texto muito interessante, porque apresenta uma leitura clara e objectiva deste livro. Era bom que este texto servisse de incentivo para que mais colegas do 11º D tivessem oportunidade de o ler. :)

De facto, cada vez nos aproximamos desse "admirável mundo novo", na medida em que o desenvolvimento das tecno-ciências persegue um caminho alheio a determinados princípios éticos. A vida humana está em crise, na medida em que vivemos numa era em que os interesses pela humanidade foram substituídos pelo encantamento das máquinas. Esta hipnose colectiva é, certamente, alienante.

Carla disse...

Ainda bem que consegui esclarecê-la, professora Helena! Quanto ao filme, quando puder vejo-o =)

Professora Soledade, infelizmente, aquele "admirável mundo novo" não está de todo tão distante de nós. Não concordo com o adjectivo "admirável", pois não sei até que ponto é assim tão espantoso. Talvez no período em que foi escrito, um mundo como aquele, de tão longe que estava, pudesse afigurar-se como algo fenomenal. Hoje, que já percebemos que não é, de facto, tão longínquo, intimidamo-nos e questionamo-nos acerca do caminho que estamos a seguir…

Professor Valter, subscrevo as suas palavras. Há valores éticos que se perdem, e o desejo por novos e mais sofisticados aparelhos afigura-se no centro da nossa sociedade desenvolvida. Huxley viveu, inclusive, num momento de expansão e progresso, em que surgiam mecanismos sofisticadíssimos para a época, terá sido nesse contexto que redigiu a sua obra? …

p.s.: Obrigada pelos comentários =)

Valter disse...

Olá Carla! Deixaste no teu comentário questões bastante pertinentes.

O livro foi redigido no início dos anos 30, antes dos sistemas totalitários que viemos a conhecer no século XX, antes mesmo das investidas eugénicas praticadas pelo nazismo, com o objectivo de apurar a raça. No entanto, nos anos 30, após o "crash" da bolsa de valores e da crise económica, houve uma expansão do desenvolvimento tecnológico. A meu ver, esta obra é mais uma utopia, como chegas a referir, sem tempo nem lugar, mas que indaga o ser humano e a sua humanização. Talvez Huxley, descedente de uma família de cientistas, pretendesse preludiar as consequências da leitura evolucionista da humanidade, além de criticar os sistemas autoritários (que na Itália já se faziam sentir e que ele conheceu de perto).

Proponho-te um desafio. A obra deste escritor inglês tem como título original "A brave new world" (que mais tarde escreverá um "remake" desta obra, com o título "Regresso ao admirável mundo novo"). Tenta saber, junto da tua professora de inglês, qual a melhor tradução para o adjectivo "brave" que, a meu ver, também pode ser bastante discutível.

Valter

Carla disse...

Professor, obrigada pelo seu comentário e pelas informações!

Amanhã irei colocar essa questão à professora Emília.

Por curiosidade, o professor já leu o "Regresso ao admirável mundo novo"? ... Recomenda?

Até sexta!

Soledade disse...

Carla, o professor Valter já te deu uma resposta bem completa.
Deixa-me só acrescentar que o adjectivo "admirável" (ou "brave", já agora) é irónico. A utopia é amarga e o livro (vê o desenlace) uma denúncia.
Os anos trinta assistem de facto ao início dos "fascismos"; o futurismo e outros movimentos vanguardistas que tinham emergido após a 1ª Guerra Mundial faziam a apologia da progresso e da tecnologia, e nutriam o fascínio pela máquina, pelo novo, pela força... e pelos sistemas totalitários. É neste contexto que "Brave New World" surge.
Ah, se leres o "Regresso", vamos querer nova exposição oral na aula ;-)

Valter disse...

Eu concordo plenamente com a professora Soledade. Andei a pesquisar sobre o "brave" que significa corajoso, heróico, mas não passa de uma ironia aos tempos modernos.

O "Regresso ao admirável mundo novo" nunca li nem tenho o livro! Mas há uma tradução portuguesa editada em Livros do Brasil.

Anónimo disse...

Carlinha :)

Ainda não li o livro. Mas já ouvi falar imenso dele. Inclusivé numa aula de inglês em que o comentámos a propósito de um texto, não sei se te recordas! De facto, não será o melhor mundo para se viver. Um lugar onde a liberdade é total esquecida para dar lugar à manipulação conseguida pela técnica. É assustador. A forma como, cada vez mais, o progresso nos pode influenciar, ao ponto de definir o nosso destino e as nossas opções. Esta é uma temática que, para além deste livro, já foi debatida em vários filmes, mesmo tendo como base outra história e distintas personagens. Filmes de robots e coisas do género.
Talvez porque todos temos consciência que o fascínio que as máquinas e a evolução criam em nós pode ser perigoso quando levado ao extremo.

Um beijinho grande! :)

Tiago disse...

parece que cada vez mais o ser humana caminha para a seu próprio fracasso, aquilo que hoje nos parece um avanço na forma como vivemos pode vir um dia a tornar-se num problema irremediavel...sendo os causadores destes problemas que podem levar a este tal mundo otopico onde nada e genuino mas manipulado por terceiro, devemos tambem ser nos os a tentar compreender a origem dos problemas e evitalos...

bj*carlinha

Carla disse...

Vou então ver se há o "Regresso ao admirável mundo novo" na biblioteca da escola!

Ironia aos tempos modernos, então...
Aprecio Huxley, tanto pela sua visão futurista de realidades que pareciam inacessíveis ao Homem, como o desenlace que ele, já nos anos 30, previa desse mesmo mundo.

Obrigada pelas informações, professores!

Sofia =)
Concordo inteiramente com as tuas palavras... E apreciei imenso a parte final do teu comentário: "o fascínio que as máquinas e a evolução criam em nós pode ser perigoso quando levado ao extremo". Fez-me pensar noutras temáticas... Pois o fascínio, o encantamento, ou até mesmo o deslumbramento total por algo pode levar-nos à ruína, na medida em que nos cega e nos impede de agirmos racionalmente...
Um beijinho para ti! =)*


Tiago, achei bastante interessante teres referido o facto de se perder, gradualmente, a genuinidade. Tudo é programado, há um paradigma e, a partir daí tudo é criado. De facto, se passarmos a ser uma espécie de robots é o que vai acontecer, perder-se-á a autenticidade que nos caracteriza e viver-se-á numa espécie de “ditadura tecnológica robotizada”. A designação que inventei até teria uma certa piada se aparecesse no contexto de uma BD ou cartoon, não se espelhasse a nossa futura sociedade.
Um beijinho também para ti*

helena disse...

Carla
Ontem fui ver a estreia do"Fim de Linha", teatro dos Gambuzinos, onde as nossas Rafaela e Sofia actuam e muito bem( Parabéns meninas !). Quando saí e encontrei um dos nossos Tiagos,oTiago Santos, não pude deixar de comentar com ele que relacionei o que acabava de ver com as palavras que têm sido escritas neste teu post.
O facto de que quer numa sociedade de "ditadura tecnológica robotizada" quer numa outra que manipule, nos impedem de sermos livres e autênticos é sem dúvida um grande tema de contiuada reflexão.

Ainda não sei quase nada de Orwell mas penso que ele alertou para o facto de o "espírito de manada" ser um dos grandes problemas da humanidade.

helena

Carla disse...

Professora Helena, ainda não tive oportunidade de ir ver a peça "Fim de linha", portanto, limito-me a reter a sua infrmação. Não sabia que o tema do teatro se realcionava com esta maatéria de uma "ditadura tecnológica robotizada".

um beijinho,Carla

Carla disse...

obrigada pelo teu comentário sobre o Alasca, Flávio! :D beijinho