12.4.08

Carta de amor de Almeida Garrett



A revista Tabu do jornal Sol selecciona, todas as semanas, uma carta de amor de uma pessoa célebre. Esta semana mereceu destaque o introdutor do romantismo em Portugal, um homem multifacetado que viveu num período muitíssimo agitado da História Europeia e de Portugal.

Pelo facto de termos estudado o Frei Luís de Sousa este ano, e como as palavras de Garrett me recordaram o grandioso e trágico amor de Madalena e Manuel e, finalmente, porque me parece interessante conhecer o autor por detrás das personagens que idealiza, resolvi introduzir esta carta no blogue.


(Penso que será necessário clicar sobre a imagem para que apareça num tamanho acessível à leitura dos textos.)

8 comentários:

Anónimo disse...

Ambas as cartas são muito bonitas, é evidente em cada frase a forte influência do Romantismo que ele próprio trouxe ao nosso país.

^^

helena disse...

Carla

As cartas de amor escritas por outros parecem-me sempre excessivas, por vezes não as entendemos porque estamos fora desse amor, achamos-lhe piada...

Quando relemos as que escrevemos ou que nos escreveram passados os tempos da paixão sentimo-nos por vezes ridículos, humanamente frágeis, mas escrever é muito bom!


para todos os "humanitas" muitos beijinhos

helena

Anónimo disse...

"Todas as cartas de amor são ridiculas. Elas não seriam cartas de amor se não fossem ridiculas" Pessoa dixit ao seu bebezinho Ophelinha

Soledade disse...

Gostei muito de ler, Carla. A publicação de textos pessoais (em particular de diários íntimos e da correspondência privada) de escritores tem provocado polémica. Aconteceu recentemente, com cartas de James Joyce, o célebre escritor irlandês que revolucionou a novelística do século XX. Em relação a essas cartas de Joyce, julgo que se tratou realmente de voyeurismo baixo e percebi as objecções da família. No que se refere a estas cartas de Garrett, elas têm outras características e o momemto da escrita já está muito longe, no tempo, o que amortece, do meu ponto de vista, o constrangimento de que a professora Helena fala. Depois, Garrett tinha uma apurada noção do jogo amoroso e e do jogo poético. Apostaria que, lá no fundo, ele sabia que não estava apenas a escrever cartas de amor, mas também material literário, susceptível de interessar a outros.
Se se recordam de alguns poemas que lemos nas aulas, julgo que conseguem estabelecer relações entre o interlocutor de "Anjo és" "Rosa e Lírio" ou ainda de "Não te amo, quero-te" e o destinatário das cartas.
Boa entrada, esta, Carla! :)

Carla disse...

Natacha, obrigada pelo teu comentário. De certo que Garrett era um escritor profundamente romântico... aquelas palavras que escreve, por vezes, e a meu ver, um pouco excessivas...mas o amor é mesmo isto: excessivo. =)
Um beijinho*

Carla disse...

Professora Helena, concordo consigo, todavia, e como refere, por vezes, o facto de acharmos que são excessivas ou até ridículas tem que ver exactamente com o que disse: "estarmos fora desse amor"...

Um beijinho também para si, até terça =)

Carla disse...

Professora Soledade, de facto, o tempo amortece os amores e até as palavras, fazendo com que estas se tornem mais do que meras frases de amor, integrando o legado artístico que Garrett nos deixara. Ao ler o seu comentário lembrei-me que talvez pudesse ser interessante introduzir um dos poemas que referiu, então, aqui vai:

Não te Amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n 'alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.

Almeida Garrett

Um beijinho, até quarta! =)

Carla disse...

Quanto ao comentário em anónimo, agradeço as palavras retiradas do poema de Pessoa, e deixo-o aqui, completo, para que possa ser lido:

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos

=)