16.4.08

Humanidade(s)


Já que este blog é precisamente sobre Humanidades, é decerto crucial falar-se sobre Humanidade, esse "pequeno" grande grupo de pessoas do qual fazemos todos parte, porque a Humanidade é o grupo que ninguém exclui porque se refere a todos aqueles que são humanos, seja qual for a sua cor, raça, sexo, idade ou religião. A Humanidade, mãe de todos os descendentes que são a sociedade actual, sofreu mutações ao longo da história e acumulou novos problemas, mas também novas soluções; cometeu erros com os quais aprendeu ou não, resolveu problemas que causaram outros; perpectua problemas ou simplesmente, por ser tão rica e variada em opiniões e crenças, não os consegue resolver. Mentes são mudadas, umas para o bem e para os valores pelos quais nos devemos reger, outras adoptam ideais aos seus olhos correctos, mas que só podem trazer conflitos e discóridas entre seres humanos. Mentalidades são adoptadas e por isso, por muitos poucos que sejam os que as possuem, estas perdurarão porque haverá sempre quem reflita sobre elas e as ache espelho de si próprio e daquilo em que acredita. É isto que de tão fantástico torna a Humanidade quase que num universo paralelo. É isto que a faz tanto unir-se como chocar dentro de si. A diversidade de culturas, ideiais, sentimentos, personalidades, crenças, educações, até a própria diversidade inata que nos faz ver as coisas por pontos de vista diferentes de qualquer pessoa, seja ela de um país distante ou o irmão que cresceu connosco.

Acredito que as pessoas nascem com uma certa "base" de personalidade que advém da sua ainda deficiente capacidade de raciociar e de sentir, porque se fôssemos assim tão maleáveis, seriamos exactamente aquilo que os nossos pais desejavam que nós fossemos; aquilo para que nos criaram e educaram. Mas, ao vermos as crianças, ainda que muito pequenas, reparamos que são todas diferentes nas suas formas de agir, pelo que é importante dar-lhes, mesmo que inconscientemente para elas, bases seguras para as suas personalidades. Portanto, a Humanidade começou logo com o ser que nasce e dele se renova, sem nunca terminar, pois aquele que morre deixa sempre legado, a perpetuação da sua existência, quer por descendência, quer não. Um simples gesto de uma pessoa, que poderá ser vulgar aos seus olhos, formará uma espécie de cadeia que se expandirá e que irá afectar pessoas em qualquer canto do mundo. Basta um erro nosso para que aquele mais sensato e observador aprenda algo de valor que o impedirá de cometer o mesmo erro e mudar o destino que poderia ter. Isso torna a Humanidade também num espaço de partilha.

Ao interagirmos uns com os outros, mudamo-nos não só a nós, como aos que nos são próximos (sendo que, com as novas tecnologias, se pode ir cada vez mais longe nesta cadeia), que por sua vez mudarão os que lhes são próximos e assim sucessivamente. Claro que tudo pende da mesma forma para o lado bom como para o lado mau. A eterna luta renhida entre o certo e o errado, que não têm necessáriamente de constituir um campo de batalha. Se se chegou à ideia de correcto, é porque alguém errou e percebeu que tinha errado, procurando assim aquilo que realmente está bem e é bom para si e para os outros, aquilo que produz o carácter e o bem-estar, consigo e com a comunidade que o rodeia. Também a ingorância pode ser a fonte do erro: quem foi educado com falhas e cresceu no seio de um erro, decerto errará também, se todas as portas ao mundo diferente a partir do qual poderá julgar ao seu estiverem fechadas. Quem é criado numa familia de racistas será provavelmente racista, a não ser que olhe à sua volta e compreenda que nem tudo aquilo que lhe é egado pela familia é o ideal; se observar o negro que vive tal e qual como o branco e em nada difere a não ser no excesso de pigmentação que as condições climatérias e geográficas conferiram à sua raça para o proteger, basta ter uma mente aberta para recusar os ideais que lhe são transmitidos e formar-se enquanto ser sensível e racional que é.

Olhando a Humanidade de hoje, é quase impossível contar os diversos problemas que a afligem: aquecimento global, guerras por diversas causas, fome, pobreza, desrespeito pelos Direitos Humanos, preconceitos... enfim, problemas políticos, económicos e ambientais que acabam por ser causa e consequência do primeiro problema: o problema social. Enquanto o ser Humano não aprender a relacionar-se com os outros e a aceitá-los; enquanto as pessoas não enfrentarem os seus medos e admitirem que erram porque é assim mesmo, somos todos humanos e erramos; enquanto não se mudarem as atitudes, não só através da educação como também da prórpia reflexão, porque há coisas que mesmo ensinadas, precisam de ser apreendidas por nós mesmos para serem aceitadas; enquanto nada disto for feito à escala mundial, a Humanidade defrontar-se-á sempre com estes e outros problemas que criará.

Há que aprender a viver em sociedade, mas principalmente consigo próprio. Daí sim, poder-se-á aprender a viver em comunidade. Parece uma tarefa dantesca, de facto, e será ingénuo acreditar neste mundo utópico, com todas estas pessoas tão antagónicas umas das outras. Mas a verdade é que o sonho, a preseverança e a coragem de combater por aquilo em que acreditamos poderá fazer muito por esta Humanidade que caminha por entre o nevoeiro, perdida e confusa. O Homem não é perfeito, muito menos a Humanidade. Mas o esforço para mudar aquilo que está errado e a elevação das vozes da razão pode criar heróis, heróis esses que, não mudando toda a Humanidade, mudaram mentalidades e alcançaram todas as vantagens e progressos sociais e humanos que temos hoje. Pensemos, por exemplo, em todos aqueles que lutaram contra a escravidão. Foi graças a eles que esta foi abolida, embora tal concepção na sua época soasse ridícula. Eles fizeram mentes pensar, observar e julgar atitudes.

Não podemos curar, mas podemos melhorar. A Humanidade é a Grande Familia, ela expõe-nos a tudo aquilo a que temos acesso e afecta-nos, pelo que devemos lutar por ela e fazer dela o melhor espaço de encontro possível, para que nela nascem pessoas com valores baseados na Razão, no conhecimento do correcto, na empatia pelos sentimentos humanos. É aquilo que por vezes basta: empatia pelo outro. Não é limitar o pensamento e a liberdade dos outros que os torna melhores indivíduos; é abrir-lhes a mente ao que os rodeia, alimentar-lhes o espírito crítico, deixá-los ver pelos seus próprios olhos, ensinar-lhes os valores da vida em Humanidade.

Deixo algumas frases de várias personalidades da História sobre as quais podemos reflectir e que nos falam sobre a Humanidade:

"Sinta-se envergonhado de morrer até que tenha conseguido alguma vitória para a humanidade."( Horace Mann )

"Todos os homens se enganam, mas só os grandes homens reconhecem que se enganam." (Fontenelle)

“Se cada um dos teus dias for uma centelha de luz, no fim da vida terás iluminado uma boa parte do mundo.” (Osho)

“Não há progresso sem mudança. E quem não consegue mudar-se a si mesmo, acaba por não mudar coisa alguma.” (George Bernard Shaw)

“Para quem queira ver, há luz suficiente; para quem não quer, há bastante obscuridade.” (Blaise Pascal)

“O talento educa-se na calma; o carácter, no tumulto da vida.” (Goethe)

“O degrau de uma escada não serve simplesmente para que alguém permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o pé de um homem o tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais alto.” (Thomas Huxley)

“Até um relógio parado está certo duas vezes por dia. Após alguns anos, pode vangloriar-se de uma longa série de sucessos.” (Marie Von Ebner)

"Os erros dos grandes homens são mais fecundos que as verdades dos pequenos." (Friedrich Nietzsche)

"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer."
(Albert Einstein)

11 comentários:

helena disse...

Natacha

Que bela reflexão para tantas questões da nossa humanidade!

Aquela que mais me tocou é a de que devemos" deixá-los ver pelos seus próprios olhos".
Esta questão faz-me sempre pensar muito.

helena

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Natacha, quando falas da educação e do seu papel na formação do ser humano, sou forçada a concordar contigo. De facto, é necessário existir uma base à nascença, algo que nos impeça de uma manipulação total por parte daqueles que nos educam. Algo que chamamos personalidade própria, que não sofre qualquer tipo de influência quando posta à prova pelos nossos educadores.
Gostei muito do texto, parabéns! :D

Um beijinho.

helena disse...

Natacha e Sofia

A propósito dos vossos textos e para complementar, deixo-vos uma frase que retirei de um painél de um museu que recomendo, o Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, que expunha trabalhos sobre a Geira-via romana que ia de Bracara Augusta à Asturica Augusta:

" Ningém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida ninguém, excepto tu, só tu.(...)"
helena( de regresso do Gerês)

Anónimo disse...

Obrigada stora, por essa frase bastante interessante. É de facto pertinente e reflete o cerne das relações humanas, que dependem somente de cada um de nós e da forma como nos relacionamos xD

helena disse...

Natacha

Esqueci-me de escrever que a frase é de Nietzsche.

Boa noite

helena

Anónimo disse...

Humanidade ? para mim o mais complexo dos problemas ...

Muito bem Natacha .. Adriana

Anónimo disse...

Ola natacha
Olha tal como te prometi vim comentar o teu texto.Gostei bastante do teu texto, mas como já te tinha dito principalmente da imagem, pois acho que tem tudo haver com a própria palavra em si "Humanidade".
Parabéns fizeste um bom trabalho =)

Anónimo disse...

Olá Natacha =)
Gostei muito do teu texto!
beijinhos**
Sara

Anónimo disse...

Tambem acho que a imagem tá muito adquada ao texto!
Parabens Natacha =D
Sara

Valter disse...

Olá Natacha! Gostei bastante do teu texto. Continua a colaborar!