24.5.08

"O Fiel Jardineiro"


Adaptado de um livro de John Le Carré, “The Constant Gardener” é um brilhante filme realizado pelo brasileiro Fernando Meirelles. Este apresenta-nos um filme cuja acção não é linear; processando-se por uma série de flashbacks e elipses que desenrolam toda a narrativa nas suas duas vertentes: a história íntima do casal Justin (Ralph Fiennes), diplomata do governo britânico, e sua mulher, Tessa (Rachel Weisz), uma activista dos direitos humanos. Paralelamente, é-nos apresentada a investigação que Tessa realiza acerca da actuação ilegal de grandes farmacêuticas em África.

No início do filme é anunciada a morte de Tessa, a qual tinha viajado com o seu amigo Arnold (Hubert Kounde) a fim de prosseguir a sua investigação, que o marido desconhecia. A partir desta morte, é interrompida a sequência cronológica, dando-se a grande analepse do filme que fará Justin compreender a mulher e prosseguir a sua missão.
Anos atrás, o diplomata, em trabalho, fora enviado para o Quénia, levando consigo a mulher. Após observações e estudos, Tessa e Arnold concluíram que várias empresas farmacêuticas actuavam de forma ilegal no Quénia, usando a população local como cobaia para testar uma nova vacina, contra a tuberculose, cuja fórmula ainda não estava acertada e que causava inúmeras mortes, das quais não havia registo oficial. Obviamente que as autoridade inglesas estavam por detrás de todo este cenário e, assim, num jogo de conveniências e interesses, comandado pelo dinheiro e pelo poder, o mais importante era eliminar qualquer ameaça que pusesse em risco este “jogo sujo” entre os poderosos.

Esta história é uma perfeita metáfora da realidade de hoje em relação ao petróleo e às guerras intermináveis causadas pelo combustível fóssil. Corrupção, ânsia do poder, ambição do dinheiro, acções ilegais e, o pior de tudo, algumas apoiadas pelas autoridades, são verdades com as quais lidamos todos os dias e que muitos tentam combater, embora já se conheça a priori o fim. É um filme que descreve vários tipos de amor, desde o sentimento entre um casal, à luta e ao desejo de protecção de um povo do chamado “terceiro mundo”, curiosamente, uma ex-colónia da grande e poderosa Inglaterra. Não é incrível este facto?…
Deixo aqui o link do trailer : http://www.youtube.com/watch?v=TpGEsxvNcsw

7 comentários:

helena disse...

Boa noite Carla

É sempre com muito gosto que leio as tuas opiniões sobre os livros que lês, os filmes que vês e sobre muitas das temáticas que também me interessam.

Este ano, a propósito das grandes diferenças entre os países ricos e os países pobres, mostrei este filme a uma das minhas turmas do 9ºano e eles gostaram que alguém lhes tivesse mostrado um filme que lhes pedia para pensarem. Alguns escreveram textos muito interessantes sobre o filme.
helena

Carla disse...

Bom dia, professora Helena!

Obrigada pelas suas palavras =)

A primeira vez que vi o filme foi numa aula de moral. Há duas semanas a professora Vera presenteou-nos com este belo filme que, como os seus alunos disseram "faz pensar"... No entanto não resisti e aluguei-o para mostrar aos meus pais. A minha mãe ficou chocada com algumas imagens, especialmente as que mostravam a pobreza queniana, e recusava-se a ver certas partes. Embora perceba a sua atitude, acho que é irremissível, na medida em que se fosse adoptada por todos simplesmente porque "é muito chocante ver as condições miseráveis e paupérrimas em que eles vivem", aquela gente seria esquecida…
Acho que escolheu um óptimo filme para mostrar aos seus alunos!

Até terça!*

vera catarino disse...

Olá Carla, gostei muito da forma como apresentas o filme que vimos na aula e achei muito importante o facto de passares a mensagem aos teus pais e amigos. O teu texto está bem redigido e salienta as problemáticas abordadas no filme. Estes são alguns dos tumores da nossa sociedade sobre os quais todos nós deviamos fazer uma reflexão porque vivemos numa aldeia global na qual todos temos um contributo a dar.
Beijinhos
Vera

Carla disse...

Professora Vera, em primeiro lugar, queria agradecer-lhe pelo seu comentário! Em seguida, queria dizer-lhe que achei interessante o facto de ter referido que "vivemos numa aldeia global" e, como tudo, tem duas faces. Se por um lado permite que passemos a dispor de, por exemplo, fantásticos mecanismos tecnológicos, por outro lado faz com que todos os problemas inerentes a outros países também nos digam respeito...

Um beijinho, até Sexta!

Unknown disse...

Antes de mais, quero dar os parabéns a todos os participantes deste blog pelo seu empenho e dedicação, que nos permitem "ver" para além do óbvio.

Em relação a este filme, trata-se de uma boa forma de nos lembrar que existe vida e problemas, para além daqueles que vivemos, hoje, como cicadãos europeus. Lembra-nos que, como cidadãos do Mundo, somos responsáveis por todos aqueles que não têm as mesmas oportunidades que nós.

Filipe

Valter disse...

Olá a todos!
Carla, mais uma vez estás de parabéns, bem como a professora Vera!

Apesar de o texto manter a lucidez de modo a focar, como o filtro de uma câmara, a mensagem do filme, os comentários ainda enriqueceram mais a entrada. Falou-se de "cidadãos do mundo" o que não deixa de ser um epíteto interessante para a nossa condição actual. Já não vivemos como os velhinhos atenienses numa democracia local, hoje os problemas são globais, na medida em que, como o efeito borboleta, um pequeno acontecimento no Sri Lanka pode provocar um grande acontecimento na Europa ocidental.

O filme é excelente! Quando o vi pela primeira vez, não pude deixar de sentir uma necessidade de falar com alguém, de partilhar os arrepios que senti, sobretudo nas imagens finais.

Quero continuar a ouvir-vos... falem! já agora, o que achou o resto da turma do filme?

Soledade disse...

Eu não vi o filme, mas a Carla convenceu-me. Apesar do desconforto que ela refere que a mãe sentiu e que eu entendo bem. De facto não preciso de ser confrontada com imagens ou narrativas perturbadoras para saber que o mundo é injusto e perigoso e que as guerras dos poderosos são impiedosas e movidas sempre pela ganãncia. Mas por vezes precisamos de um aguilhão para sairmos do círculo dos nossos problemas imediatos (como lembra o Filipe) e para voltarmos a pensar aflitivamente. Às vezes é preciso...