3.6.08

Educação Cívica


«A educação cívica difere da educação filosófica em todos os aspectos»

William A. Galston introduz o seu texto, intitulado Educação Cívica, apresentando-nos dois tipos distintos de educação: a educação filosófica e a educação cívica. Embora comece por dissociar estas duas formas de educação, perceberemos que, de facto, elas se influenciam mutuamente, embora sejam antagónicas.
Enquanto a educação filosófica tem como principais objectivos a “disposição para a procura da verdade” e a “capacidade de levar a cabo a investigação racional”, a educação cívica interessa-se pela formação de indivíduos, os quais irão actuar de forma consciente e autónoma na sua comunidade política. Sendo, na vertente filosófica, a verdade só uma e universal, a educação cívica é impossibilitada de chegar a um consenso universal, na medida em que é “uma educação no interior e em nome de uma ordem política” e não é homogénea e, por isso, o seu objectivo acaba por não ser universalmente consumado. De facto, a actuação da sociedade num regime autoritário difere substancialmente da de um tipo de política liberal.
No entanto, e tal como o próprio autor realça, poder-se-ia dizer que tal antagonismo entre a educação filosófica e a educação cívica é uma hipérbole, na medida em que elas não estão, de facto, dissociadas uma da outra e, sobretudo, as consequências da procura da verdade podem ter um efeito cáustico na estabilidade das sociedades e das comunidades políticas. Fazendo uma analogia, consideremos a actividade filosófica como a reflexão crítica da sociedade, cujo objectivo é melhorar a mesma e alcançar a verdade e, noutra margem, temos a sociedade e todas as suas crenças e ideias, as quais representam a caverna que Platão nos apresentou e que constituem as estruturas sociais, sociedade essa que adopta uma posição dogmática. Do confronto entre ambas as partes, o lado dogmático e o crítico, surgirá uma revolução que culminará numa mudança de atitude e aperfeiçoamento da sociedade.
Quem não se recorda das Revoluções Liberais que deram início à idade contemporânea, as quais se deram pela ânsia de mudar o carácter repressivo da época do Ancien Regime?

De facto, a estrutura governativa de cada nação, terra ou país faz com que a sociedade seja mais ou menos aberta, tanto à educação filosófica, como às suas consequências sociais.

Em suma, as controvérsias entre a “investigação racional e a educação cívica” nas sociedades liberais estão longe do fim. Sugerimos o exemplo da constante evolução científica, a qual comprova o carácter adulterado de muitas verdades bíblicas. Todavia, há tantos que ainda se recusam a desviar as suas mentes, se recusam a abri-las e a perceberem que a realidade está muito para além dos salmos, parábolas…

Carla e Cristiana

3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto meninas. :) Embora com a necessidade de o ler várias vezes devido à sua complexidade, consegui entender a mensagem que queriam transmitir.
Quando ao parágrafo final, vivemos ainda numa sociedade muito primitiva psicologicamente.
" Há tantos que ainda se recusam a desviar as suas mentes.." . Em que muitos são optimistas ao determinar que já estivemos em situações piores neste campo . O que ineressa realmente é que a situação em que nos encontramos nos dê força para ser optimistas e pensar que no futuro será melhor, lutando para que isso seja alcançado, como é óbvio!
Um beijinho!

helena disse...

Meninas Carla e Cristiana

A matéria está a ficar complexa, vou precisar de pedir explicações ao professor Valter!

A vossa reflexão, e mesmo estando realmente longe de dominar a vossa abordagem, alerta-me para a necessidade de entender a educação de espírito aberto.

helena

Soledade disse...

Será que "a realidade está muito para além dos salmos e parábolas"? Hum... Sem querer provocar-vos (ou talvez sim), não posso deixar de lembrar duas ou três coisas: a Bíblia não se reduz a salmos e a parábolas. Ela é composta por vários livros e alguns têm carácter histórico, ainda que, tal como em relação aos nossos cronicões e nobiliários medievais, devamos entender que a verdade histórica não era entendida como hoje a entendemos. Outra aspecto que queria lembrar-vos era que a Razão não explica tudo, e que os mitos e as abordagens simbólicas contêm capacidades tremendas. Fernando Pessoa, na Mensagem, diz-nos que, sem o mito, esse "nada que é tudo", a vida agoniza, perdida a chave para a decifrar - o sentido do próprio mito.
Por fim, quero dizer-vos que apreciei muito o vosso texto. E que conhecer a Bíblia é indispensável para entendermos profundamente a nossa cultura, já que a Bíblia é um dos textos, talvez mesmo o texto, mais basilar de todo o nosso património literário.
Um beijinho às duas, com pedido de desculpas, mas não resisti :-O