Em 1927, o expressionista alemão Fritz Lang fez chegar às salas de cinema a mais dispendiosa obra cinematográfica produzida até à data, Metropolis. Uma obra de ficção científica que pretende reflectir sobre a técnica e o seu impacto na existência humana. A intenção do realizador foi arquitectar uma grande cidade do ano de 2026, governada autocraticamente, inspirando-se no quadro do pintor flamengo do século XVI, Pieter Brueghel, A Torre de Babel. (à esquerda)
A grande pólis é um lugar sombrio e perverso, esquartejado pelas máquinas fumegantes, despindo a humanidade do seu húmus, aprisionando-a a uma frenética corrente eléctrica, nós de aço, botões flamejantes; os veículos voadores, os cabos que ligam tudo a todo o lado, o sub-mundo dos operários que, todos os dias, cativos da rotina, se deixam sacrificar pelas máquinas. Por outro lado, Fritz Lang ao reflectir sobre a técnica, traduz para a tela um mito escatológico, em que o fim dos tempos se vislumbra por detrás da mecanização de uma cidade que não dorme, de uma cidade que cuida dos indivíduos, não para os proteger, mas para os vigiar, cautelosamente, de modo a não perder o controlo, através da mediatização tecnológica, sobre a vida dos humanos.
[Imagem da Metropolis]

A cidade funde-se com a técnica. A pólis é transformada numa grande linha de produção, visão herdada das correntes marxistas da época, alinhavada com imagens tão pouco oníricas do porvir. Assim, o espectador pode apreender uma visão pessimista do futuro da humanidade, através da sua subjugação ao poder das máquinas.
O velho sonho, de cariz mefistofélico, de o homem criar um homúnculo, aparece no filme, conduzido pela personagem alucinada de Rotwang à sua concretização, através do robot feito à imagem da personagem Maria. A rebelião entre as máquinas e os homens é a parte mais importante da narrativa, embora pretenda ressalvar a imagem da pólis do futuro, do rosto ficcional que adquiriu, do seu vínculo à técnica e à desumanização.
2 comentários:
De facto, Metropolis é uma obra-prima e um filme seminal que abre caminho a outros, como Blade Runner, um filme de culto para muitas pessoas, nas quais me incluo :) Ambos os filmes apresentam a visão inquietante de um mundo dominado pela máquina e pela tecnologia. E, hoje em dia, nenhum deles nos parece inverosímil.
Espreitem aqui, é uma sequência promocional do Metropolis:
http://www.youtube.com/watch?v=NarN046dDOQ&feature=related
E aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=AbWNZkoQHuE
Desafio-vos a ver "Blade Runner" (encontra-se facilmente em dvd) e a apresentá-lo e discuti-lo na aula ou no Fórum do Moodle. Que dizem? Poderíamos depois publicar as conclusões da discussão aqui no blogue.
Olá Soledade, obrigado pelas sugestões!
Na verdade, faz todo o sentido analisar o "Blade Runner" à luz do "Metropolis". Aliás, eu também prefiro o Blade Runner, que aborda de forma bastante pertinente a busca dos replicantes (as réplicas dos seres humanos, escravizados por estes)da "humanidade". E, para mim, é sempre perturbadora a cena do replicante com o Harrison Ford, a dor do replicante por não ter uma história de vida, por não ter existência, entendida, enquanto tempo vivido.
Por outro lado, o argumento foi escrito por um fabuloso escritor de ficção científica, que além da prosa nos oferece reflexões filosóficas sobre a condição humana nos limites da humanidade, isto é, a condição de andróide, o Philip K. Dick.
Aconselho-vos, além do filme, o livro "O andróide e o humano", de Philip K. Dick, publicado em 2005, pela Vega.
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